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#46 Sobre ler rápido ou devagar (e, como resultado, "muito" ou "pouco")

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(Imagem: vecteezy.com ) O mundo atual pede que a gente se mova num ritmo vertiginoso, afinal tudo é “para ontem”. Nossa atenção quase sempre está dividida, tentando dar conta das demandas infinitas, sejam internas ou externas. Nesse cenário, como ficam as leituras? Desde pequena, até antes de ser alfabetizada (quando minha mãe lia gibis da Turma da Mônica em voz alta), a leitura sempre cumpriu na minha vida um papel de entretenimento e informativo ‒ curiosa, eu adorava ler até enciclopédias quando fazia trabalhos escolares.  Durante a graduação em Letras, eu precisava ler conteúdo do curso, claro. Felizmente eu gostava da maioria dos assuntos mas, mesmo assim, achava cansativo só ler o que me mandavam, então esse foi o período da vida em que menos li apenas por prazer. De qualquer forma, eu encaixava leituras de lazer sempre que possível pois considero insuportável viver sem contato com boas histórias. Naquele período, com a escassez de tempo que limitava a quantidade de leituras fora

#45 Leituras do primeiro semestre de 2024

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  (Foto: freepik.com ) Hoje trago breves reflexões sobre as leituras favoritas do primeiro semestre de 2024, e duas de minhas atuais tendências na escolha de livros.  Um de meus critérios ao selecionar livros para resenhar é ter gostado muito da leitura. Portanto, tudo o que está no Vivo entre Livros me agradou. Há, porém, livros de que gostei mas não resenhei por: 1) me sentir incapaz de falar sem dar spoilers; ou 2) senti que não tinha muito para contribuir com o assunto que está bombando; ou ainda 3) fiquei boquiaberta e não queria prestar um desserviço à qualidade do livro contando a sinopse. A maioria dos livros abaixo ( organizados por ordem de leitura) encaixa-se em uma das categorias mencionadas. ( Editora José Olympio )   Numa simplificação monstruosa, posso definir que “A filha primitiva” narra a história de uma mãe incapaz de se conectar com a filha por conta da mágoa que sente pela própria mãe.  Para mim, foi uma leitura frenética apesar do mal estar que me causou. Eu ten

#44 Coração na aldeia, pés no mundo, de Auritha Tabajara

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  (Capa: Vítor Goersch) A poesia, além de ser a origem da literatura (penso em Gilgamesh e no teatro grego clássico, por exemplo), há milênios conta histórias ‒ como a prosa.  Eu, no entanto, não habituada a ler em versos, em 2016, quando soube que Bob Dylan tinha ganhado o prêmio Nobel, pensei “com tantos escritores incríveis, por que escolheram premiar um músico ?”. Na repercussão da notícia, vi Booktubers lembrando que letra de música (e qualquer forma de narrativa, oral ou escrita, rimada ou não) também é literatura. A partir daí, revi meus (pré-?) conceitos. Atualmente, com meu recém-adquirido hábito de leitura , me fascina conhecer relatos rimados.  Apesar de ter pai nordestino, só em 2023 li pela primeira vez literatura de cordel. Descobri então que ela é um “mundo paralelo” em que fala-se dos mais variados temas, incluindo: vida sertaneja X vida urbana, política e homenagens ou sátiras a celebridades e figuras históricas. E mesmo tendo, muitas vezes, o humor como tônica, as

#43 Esta vida – Poemas escolhidos, de Raymond Carver

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  (Capa: Bracher & Malta Produção Gráfica  Tradução: Cide Piquet)  (…) E depois de  algum tempo, oh, ninguém sabe ou se importa quando, eles começaram a se arrumar  e passear pela cidade aos domingos. Sorrindo. Ele orgulhoso e feliz, de mãos dadas com ela. (...) Felicidade é uma coisa rara! Toda noite,  ele ouvia poesia, poesia e mais poesia em frente à lareira. E nunca se cansava daquela vida. (págs. 85-86) Trecho do poema “Felicidade em Cornwall”, traduzido por Cide Piquet e presente na coletânea “Esta vida ‒ Poemas escolhidos”, de Raymond Carver. Esse livro é um dos poucos volumes de poesia que tenho na estante. Entre os 10 e os 15 ou 16 anos de idade, li bastante Drummond, um pouco de Manuel Bandeira e um tanto de Cecília Meireles. Porém, quanto mais envelheci, menos poesia passei a ler. Nos últimos dez anos, li nove ou dez livros do gênero, número irrisório se comparado ao volume de prosa que consumi no mesmo período. Como tenho o objetivo de manter em casa apenas os livros qu

#42 Sobre não ler livros "da moda"

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Quando alguém diz “É um bestseller , então deve ser bom” (Imagem: kindlepreneur.com ) Outro dia, ao escolher um título na pilha de próximas leituras, me lembrei deste mini “causo” acontecido anos atrás.  Um grupo de colegas e eu conversávamos com o professor de Tradução antes da aula. Numa das pausas, ele apontou o calhamaço em cima da minha carteira e perguntou “o que você está lendo?” Eu, envergonhada (pois preferiria ser pega lendo algum clássico tipo “Ilíada” do que um livro da então moda adolescente vampiresca), mostrei o volume de “Breaking dawn” (que na época amei, por sinal) e balbuciei algum comentário confuso que provavelmente só aumentou meu embaraço. O professor respondeu algo de que me lembro com frequência: “ Ms. Morland , nunca sabemos a real importância de um livro na época em que ele é publicado. Bestsellers podem um dia ser considerados lixo, e fracassos de público e crítica podem vir a tornar-se clássicos. Portanto, leia o que tiver vontade, divirta-se e não sinta v