#64 Manias literárias

 

(Leitora sendo leitora. GIF: tenor.com)

Metas de leitura, uma maneira específica de marcar as páginas, uma cor preferida de marca-texto… Pelo que ouço de outros leitores, cada um tem rituais diferentes no cultivo desse hábito.

 Eu adoro saber dos usos e costumes alheios. Se você também quer descobrir que não está sozinho nas suas maluquices, vem conhecer 12 das minhas manias literárias.


  1. Ler apenas uma ou duas frases da sinopse:  além de temer spoilers, eu sei que há narrativas boas de serem descobertas aos poucos. 

Um exemplo é “O menino do pijama listrado”. O romance de John Boyne já se tornou antiguinho e há tempos ganhou adaptação para o cinema, mas quando o li, em 2007, era novidade. A colega que me emprestou elogiou bastante a história e, por isso, eu nem li a sinopse. 

O resultado é que até hoje me lembro da sensação de ler as primeiras páginas e ir entendendo aos poucos o contexto da ação narrada do ponto de vista do garoto Bruno. Se eu tivesse sabido de antemão onde a história se passa, teria perdido a chance de descoberta que o olhar do protagonista oferece.


  1. Escolher livros pela capa ou pelo título: No fundo, eu acredito que a primeira aparência pode enganar, mas como (e para quê?) resistir a um título ou a uma capa como estas?...


                                    Companhia das Letras                                  Darkside Books


Então um dos meus critérios de escolha de leituras é bem superficial, sim.


  1. Hesitar em começar novos livros: essa é uma mania que eu deveria investigar na terapia, pois não faz nenhum sentido racional nem para mim. 

Sabe aquela sensação de orfandade que nos acomete logo após o término de um livro que mexeu com a gente (seja de forma positiva ou negativa)? 

Algumas leituras exigem um tempo para “assentarem” dentro de nós. Por isso, às vezes tenho certa aversão a iniciar logo outro livro. Ao mesmo tempo, sendo uma leitora voraz, para mim é inconcebível finalizar uma leitura e não passar logo para a próxima, já que existem tantos livros que gostaria de ler. Freud explica?

Em busca de solução para o dilema, eu costumo pegar um conto ou uma coletânea deles para não devorar imediatamente outra história sem ter digerido a anterior. 

Se tiverem sugestões alternativas, caros leitores, por favor compartilhem nos comentários.


  1. Marcar os livros a lápis: Até dois ou três anos atrás, eu era o tipo de leitora que considerava profanação alterar “a forma perfeita” de um livro. Sabe um povo que lê edição de bolso com o livro quase fechado para não deformá-lo? Eu era uma dessas pessoas. 

Entre outras mudanças na rotina de leitura, hoje consigo sublinhar e fazer anotações a lápis nos meus livros. Gosto de “conversar” com o texto, deixando comentários nas margens. 

Eu não vou além e nem sei se chegarei a ir, mas confesso que outro dia, no metrô, me esforcei para resistir a um impulso antes sacrílego: a vontade de dobrar o canto de uma página enquanto voltava atrás para verificar informações em outra (eu tinha, obviamente, só um marcador de páginas comigo). Então é possível que, assim como um Pokémon, eu ainda venha a evoluir mais. 

(Imagem do Pinterest)


Mas estou feliz com o progresso já alcançado, pois além de estar menos apegada ao objeto livro, o dinheiro que economizo por não comprar flags pode ser gasto em novos livros 🙌🏻


  1. Fazer muitas anotações: Principalmente depois que criei o Vivo entre Livros, mantenho o bloco de notas do celular aberto enquanto leio. Nele, registro diversos detalhes: Nomes de personagens, local onde a história se passa, frases importantes ou de que gosto, perguntas que faço a mim mesma durante a leitura, dados sobre autores e tradutores e por aí vai.  

Nem sempre o que está nas anotações vem parar no blog, mas esse material ajuda a organizar meus pensamentos durante a leitura. E quando decido escrever sobre determinado livro, os apontamentos funcionam como uma caixa preta.


  1. Reler página(s): Para mergulhar num romance, reler pelo menos uma página anterior ao novo capítulo ajuda a relembrar onde a mocinha estava quando você precisou pausar a leitura. 

Eu vou além e  releio pelo menos uma página mesmo dos livros de contos ou de poesia. Isso me ajuda a retornar para o universo daquele autor.


  1. Dividir as leituras por horário: Como tantas coisas na vida, ler mais de um livro por vez requer organização do tempo. Atualmente, a minha é a seguinte:

  • No horário do almoço, leio na BibliON, pois é mais prático apoiar o celular do que um livro físico na mesa e mudar as páginas entre uma garfada e outra. (vivo falando dessa biblioteca online, mas se você ainda não conhece, encontra informações aqui).

  • Ao longo do dia, nos intervalos do trabalho, às vezes pego meu livro inseparável do momento e leio também. 

Como trabalho em casa, é comum eu usar essas pausas para fazer tarefas domésticas, mas quando elas permitem e a leitura é do tipo que devoro, leio também nessas horas.

  • Antes de dormir, fase 1: leio um ou dois poemas do livro do momento (depois que voltei a ler poesia regularmente). A prática tem me ajudado a transicionar dos pensamentos do dia para o “modo leitura”.

  • Antes de dormir, fase 2: leio os romances da vez (em geral um ou dois). O número de capítulos depende do quão interessante a leitura está e do meu cansaço.

  • Antes de dormir, fase 3: Leio algum livro mais leve que esteja no Kindle. Já com a luz apagada, é comum eu pegar no sono assim. Quem usa o aparelho sabe que é melhor acordar com ele do que com um calhamaço enrolado na coberta.


Eu deito cedo, então essa rotina é mais viável do que pode parecer.


  1. Participar de desafios: A partir de 2016, uma incentivadora indireta da minha mania de anotar os livros lidos foi minha amiga Ra. No post passado eu contei o causo do desafio de leitura criado por nós.

Desde então, no final de cada ano, uma de nós sugere um tema ou categorias para cada mês do ano seguinte e as duas escolhemos os livros a serem lidos. Assim, a cada janeiro garantimos assunto para os 12 meses seguintes hehe. 

Quem já participou de leituras conjuntas sabe o quanto elas podem enriquecer a experiência com cada obra. Para quem nunca compartilhou leituras, eu recomendo a experiência.


  1. Fazer listas: Uma que faço desde 2015 (época em que comecei a acompanhar o BookTube) é a dos livros lidos. O hábito tornou-se parte da minha rotina de tal forma que, assim que termino uma leitura, automaticamente abro a lista e a atualizo. 

Para as leituras futuras, tenho uma lista naquela famosa loja online (a tal execrada como epítome do Capitalismo por muitos leitores) e outra no aplicativo da BibliON. 


  1. Evitar ler livros “da moda”: Eu não vou me estender nesse assunto porque já falei dele aqui. Mas preciso fazer um adendo: mesmo procurando, (quase) diariamente, me tornar uma pessoa melhor, eu ainda torço o nariz ao ver um livro comentado em todos os lugares. Vocês sabem: tentar não garante sucesso.


  1. Criar títulos alternativos para os livros: Nos desafios de leituras conjuntas compartilho novos títulos, inventados por mim, para algum livro do momento.

Muitos deles são politicamente incorretos, então para evitar cancelamento, conto para vocês apenas um: “As alegrias da maternidade”, de Buchi Emecheta, foi alternativamente intitulado por mim “Desgraça pouca é bobagem”. Leitores da obra entenderão.


  1. Observar os livros: Guardei para o final a mania que talvez seja a mais esquisita. 

A maioria dos meus livros está no meu escritório. Quando preciso dar um tempo do trabalho, gosto de reclinar minha cadeira, virá-la de frente para a estante e ficar observando os volumes.

Enquanto o olhar vaga pelas lombadas, reflito se ainda faz sentido manter aqueles exemplares ou se é hora deles encontrarem outros leitores. Também relembro histórias, “converso” com autores e, quando dou por mim, as conexões mentais me levaram a outros lugares (às vezes ao sono). Volto da viagem me sentindo relaxada e reenergizada. 

Eu ia comparar essa experiência com a tal televisão de cachorro, mas me lembrei de uma analogia melhor, que ouvi de uma conhecida: olhar para os livros na minha estante é como observar peixes num aquário.


De perto ninguém é normal, como dizem Gal e Caetano. E para mim, a leitura é, para usar um termo da moda, um ☂️ ‒ uma mania com várias submanias. 


Se você chegou até aqui, provavelmente tem manias literárias também. Eu adoraria saber quais são nos comentários ou lá no Instagram.

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