#35 Contos indígenas brasileiros, de Daniel Munduruku

 

(Capa: Eduardo Okuno e Maurício Negro)


Sabia que o povo Kaingang tem uma história intitulada “Depois do dilúvio”? Mesmo ciente de que mitos fundadores se repetem (com variações, claro) em diferentes culturas, antes de ler “Contos indígenas brasileiros” eu não conhecia essa versão da narrativa lembrada entre nós, ocidentais, como uma das mais populares do cristianismo.

Sempre que ouço algo a respeito de homogeneização cultural, me lembro de uma entrevista (que me esqueci em qual veículo aconteceu) com o intelectual indígena Ailton Krenak. Ele aponta que muitos defendem discursos de igualdade entre povos quando o ideal seria reconhecermos nossas diferenças, aprender a respeitá-las e conviver com elas de maneira mais pacífica.

No início de uma história Nambikwara presente em “Contos indígenas brasileiros”, chamada “A pele nova da mulher velha”, todos se afastam da protagonista por causa da sua idade avançada. Ao lê-lo, me lembrei da fala de Krenak e refleti que, por maiores que sejam as diferenças entre culturas, existem pontos essencialmente humanos, positivos ou não (no exemplo que citei, o etarismo), e que são comuns a um grande número de pessoas. Então trazer à tona o tema da diversidade cultural não é romantizar, idealizar nem subestimar outras maneiras de viver, mas reconhecer que todas são dignas de respeito e de crédito e que variedade é riqueza.

Escrito pelo multidisciplinar Daniel Munduruku, “Contos indígenas brasileiros” traz mitos dos Guarani, Karajá, Terena, Tukano, Taulipang e Munduruku (população da qual o próprio Daniel é parte), além dos já citados Kaingang e Nambikwara. O autor tem várias publicações, como essa, classificadas de infantojuvenis, mas acredito que a maioria dos adultos não-indígenas (eu inclusa) desconhece as culturas dessas populações e portanto pode se beneficiar da leitura.

Além da linguagem acessível, comum em narrativas para jovens, o livro inclui um glossário ao final de cada capítulo e informações sobre a localização dos territórios onde cada povo vive e o número de pessoas em cada um. As belas ilustrações de Rogério Borges dão ainda mais graça ao trabalho de contar as lendas de criaturas, forças e tempos fantásticos.

De novo na categoria “óbvio que precisa ser dito”, acredito que conhecer é o primeiro passo para a compreensão, portanto livros como os de Daniel Munduruku são importantes para disseminar realidades e pontos de vista fora do mainstream e assim, quem sabe, ajudar a desenvolver a tolerância às diferenças.

“Contos indígenas brasileiros” está disponível para empréstimo na BibliON. Aliás, no dia 30/04, o livro será discutido no clube de leitura infantojuvenil online da plataforma. A participação é gratuita.


Recomendo para pessoas de todas as idades que queiram conhecer mitos indígenas ou simplesmente gostem de fantasia.

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