#33 Lendo vários livros ou "Biting more than I can chew"

 

“Tantos livros, tão pouco tempo”

(Imagem: allauthor.com)


No momento em que escrevo este post, estou lendo sete livros (pausa dramática para você pensar o que quiser e quiçá me julgar).

Eu, claro, acho ótima a prática de bite more than I can chew (“morder mais do que consigo mastigar”) e, portanto, quis escrever a respeito. Mas falar do assunto é contar também que, por incrível que pareça, eu não nasci com essa capacidade.

Já falei um pouquinho sobre abandonar leituras, que foi um ponto de virada na minha vida de leitora. Antes de adquirir a habilidade de tocar o fo#@-se para livros (ou filmes, ou séries) que me desagradam, eu era uma pessoa que terminava cada leitura antes de iniciar uma nova. Até que o ingresso na faculdade bagunçou minha pacata rotina de leitura. Entre os muitos textos e livros obrigatórios, aos poucos fui me acostumando a separar os conteúdos, de estudo e de lazer, “em caixinhas” e, ao mesmo tempo, relacioná-los. Ou seja, fui aumentando o meu repertório.

Naquele início de mudança de paradigma, eu ainda não imaginava que o meu perfil de leitora mudaria. Nas leituras por prazer, eu seguia com apenas um livro por vez, até porque o tempo, já disse o Zappa, era e é limitado. Mas desde então, independente da minha rotina, dificilmente leio um por vez. Na verdade, só faço isso se forçada pela exaustão mental. O cansaço, é bom esclarecer, nunca vem de ler tanto e sim da vida, essa linda.

Ao perguntarem sobre meus hábitos de leitura, sempre querem saber como consigo tempo, concentração e memória para tantos textos simultâneos. 


(Genialidade de: willtirando.com.br)


Às vezes experiencio o que está nessa tirinha, mas tem uma estratégia que ajuda a evitar o caos: ler coisas diferentes umas das outras. Pode ser um livro de contos, um de poesia e um de não-ficção, ou simplesmente três romances que se passam em universos diferentes (um de época, um de ficção científica e um infantojuvenil, por exemplo).

Outro ponto a considerar: percepções do tempo, como já sabemos, são relativas. Enquanto ele é limitado para lermos tudo o que nos interessa, também pode ser administrado de acordo com as nossas prioridades.

Ler é e sempre foi o meu lazer majoritário. Assistir filmes vem em segundo lugar e é algo que faço, em média, duas vezes por semana quando meus afazeres estão organizadinhos. Assisto YouTube e ouço podcasts enquanto cuido das tarefas domésticas, portanto essas mídias consomem uma fatia pequena do meu tempo (às vezes, ouço audiolivros nesses momentos, mas esse é um assunto para outro dia). As séries, amadas e adoradas por geral, vêm em último lugar (assim, quase nunca vejo o que está hypado e passo bem, obrigada). Por último, uso basicamente o Whatsapp e nenhuma (outra) rede social. A leitura, eu faço todas as noite antes de dormir, nem que seja uma página antes do sono me derrubar. Também leio durante o almoço e nas pausas do trabalho sempre que possível.

Leio muito por ser curiosa e por não resistir à tentação de começar um livro que me interessa e está ali ao alcance das mãos. Descobri com a prática que cada narrativa (ficcional ou não) tem uma cadência própria, e se a gente souber casá-la com nosso ritmo interno do momento, é sucesso garantido.

Entre minhas leituras atuais, está “A guerra do fim do mundo”, do Mario Vargas Llosa, um calhamaço sobre um assunto pesado (A Guerra de Canudos), mostrando pontos de vista de diversos personagens. Estou com ele há uns cinco meses, pois o leio em momentos específicos ‒ aqueles em que estou concentrada e com tempo para reler passagens confusas se necessário. Já “O jornalista e o assassino”, de Janet Malcolm, está sendo minha leitura do horário do almoço e uma boa maneira de tirar o foco do trabalho e das preocupações do meu dia. Um terceiro livro atual, “Estas histórias”, da Oficina de Escrita Criativa do Museu Lasar Segall, é uma coletânea de contos, e por isso eu o abro quando quero ler mas tenho pouco tempo disponível ou estou com a atenção dispersa, situação em que é bem mais fácil me concentrar em histórias curtas.

Então, minha resposta a como leio tanto é "lendo". Se você acredita que, por não ter nascido com um super poder, não é capaz de ler bastante ou com qualidade, eis "o segredo" dessa aptidão "extraordinária": Se acha a leitura necessária ou importante, priorize-a como tal e faça acontecer. É comum ouvir pessoas dizerem que não têm tempo ou concentração para ler. Muitas delas passam horas nas redes sociais ou maratonando séries. Essas atividades exigem menos foco, é claro e assim o espectador entra num círculo vicioso: não se concentra / não tem paciência para ler porque está acostumado ao ritmo acelerado das telas e não sai da frente delas porque tem dificuldade em atentar para outras coisas. Se fizer a experiência de usar mais do seu período de lazer lendo sobre temas do seu interesse, vai notar que a concentração pode ser treinada e que o dia pode “render mais” e até ser menos exaustivo do que se passar cada momento livre dele em frente a telas.

Além disso, a dedicação a determinada atividade é o que faz dela um hábito. Se a gente não começa, ele não se desenvolve nunca. Comece com um livro por vez e se mantenha assim, com leituras cotidianas (de preferência, diárias). Após estabelecido o costume, se quiser, e só se quiser, ser “loka doz livro” como eu, vá em frente. Eu recomendo (:


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