#14 O sistema e o antissistema, de Boaventura de Sousa Santos, Helena Silvestre e Ailton Krenak
(Autêntica)
Fuçando no acervo da BibliON, encontrei esse livrinho do qual nunca tinha ouvido falar antes. Na primeira parte do prefácio, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, autor do primeiro ensaio, explica que após a publicação de seu artigo homônimo ao livro, recebeu da escritora Helena Silvestre um comentário dizendo que tinha uma visão muito diferente do tema. Após Helena topar escrever um outro texto com sua própria opinião, Boaventura convidou também o jornalista e filósofo Ailton Krenak a colaborar para a discussão. E assim nasceu este livro com três ensaios curtos.
“Sistema e antissistema” abre o livro e é onde Boaventura explica os dois conceitos por meio da História, a partir dos eventos pós segunda guerra mundial, que culminaram com o cenário globalizado capitalista em atual vigência no mundo ocidental. Esse texto é um artigo acadêmico e, portanto um pouco maçante de se ler. A visão do autor, português de Coimbra, é também a mais distante da minha realidade. Mesmo assim, destaco um trecho dele que achei interessante por ser mais pertinente a uma das questões brasileiras. “A defesa da democracia passa por muitas estratégias (…) em países como o Brasil, fazer julgamento político da ditadura militar e seus crimes, para com isso fazer uma pedagogia da democracia que vá para além das igualdades formais (...).”
Quero destacar também esta notícia, lida em minhas pesquisas para este post. Talvez eu algum momento eu escreva mais a respeito do tema autores x obras, mas tem uma dica da minha opinião aqui.
O segundo ensaio do livro, “Alianças antissistema: varrer as ruínas e adiar o fim dos mundos”, de Helena Silvestre, “conversou” bem mais comigo, pelo fato de a autora, assim como eu, ser da periferia de São Paulo. A visão de Helena sobre as desigualdades brasileiras e soluções para nossos problemas sociais é, por motivos óbvios, contundente. E dos questionamentos dela, o que provavelmente vou carregar comigo por mais tempo é “Somos capazes de lutar por uma sociedade em que os sábios são fúteis, já que tudo o que vive tem sabedoria à sua maneira?”
Por fim, o ensaio de Ailton Krenak, natural de Minas Gerias e membro da etnia Krenak, “Sobre a reciprocidade e a capacidade de juntar mundo” fala dos mundos existentes dentro do Brasil antes e depois da chegada dos europeus. Ele refere-se a nós, povos habitantes daqui, como essa ficção científica chamada “povo” (grifo meu) e afirma que “(...) os Estados nacionais (...) são máquinas de fazer guerra. Independentemente de elas estarem sendo manejadas pela direita ou pela esquerda, são máquinas de fazer guerra”. O estilo de escrita de Ailton é absolutamente fluido e muito interessante de se ler. Dos três ensaios, este foi o que mais me agradou e que mais se alinha, do ponto de vista filósofico, à visão política que tenho.
Embora eu não tenha por hábito ler a respeito de política (ou talvez justamente por esse motivo), gostei muito da proposta e da execução desse livro, a de uma “conversa” entre três intelectuais, cada um com suas vivências e sua visão de mundo a respeito de temas atuais importantes. Espero que mais pessoas leiam, reflitam a respeito das questões abordadas, dialoguem mais e plantem mais sementes de mudanças como as sugeridas pelos autores, as de mais conversas, mais tolerância e um progresso real.
Lembrando que a Biblion é uma biblioteca on-line gratuita, basta fazer um cadastro para começar a usar. O acervo deles é enorme e muito variado, vale a pena dar uma olhada lá
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