#13 Northanger Abbey, de Jane Austen (releitura)

 


(Barnes and Noble Signature Editions)


Breve sinopse: Catherine mora no interior da Inglaterra e, aos dezessete anos, é convidada pela primeira vez por amigos de sua família a ir com eles para Bath, o point de veraneio com águas termais  que aparece em tantos romances da época, incluindo outros de Jane Austen. Lá, a garota vai alargar um pouco o seu conhecimento de mundo, socializar fora de seu círculo pela primeira vez, fazer amizades e amadurecer. 

Já há algumas semanas terminei a releitura de “Northanger Abbey” (“A Abadia de Northanger”) mas, por ser muito fã de Jane Austen, me peguei pensando que não havia nada a dizer a respeito da autora e do seu livro além de “leia logo, por favorzinho”! Hoje tenho algumas outras considerações, então aqui estou.

Para quem não sabe, o pseudônimo que adotei aqui no blog foi inspirado por Catherine Morland, a protagonista desse romance. Essa escolha foi feita com base nas impressões que a leitura anterior me deixou, de que Catherine tem a imaginação muito fértil, aguçada pelo fato de ler muito, e que comete muitos erros de julgamento ao se deixar levar por enredos mirabolantes e por interpretar o mundo de maneira fantasiosa. Embora o fato de eu ser bem mais velha que a Miss Morland original não permita mais que eu saia impune dos enredos que crio na imaginação para “mistérios” do meu cotidiano (e, portanto, precise moderar essa minha característica), eu de fato fui/sou, assim como ela, uma pessoa constantemente com um pé no exagero dramático e na ideação fantasiosa, provavelmente fruto do meu consumo sem moderação de ficção, tanto literária quanto cinematográfica e televisiva, desde a infância. 

Além da lembrança de Catherine como uma jovem de dezessete anos doidivanas e delirante em meio aos medos alimentados pelos romances góticos que lê, pensar nesse romance para mim sempre trouxe junto o de Ann Radcliffe, “Os mistérios de Udolpho”, um dos favoritos de Catherine, que li logo após finalizar pela primeira vez “A Abadia” e que detestei por ele ser muito característico de sua época, o final do século XVIII, com mocinhas desmaiando e a toda hora, aff! Só não o abandonei porque eu era uma leitora diferente naquela época

Mas voltando aos livros da minha miga Jane, outra coisa que ficou na minha memória é que Catherine era uma personagem principal mais jovem e menos ajuizada, portanto diferente de outras da mesma autora (pois até então eu não tinha lido “Emma”, a rainha das protagonistas estouvadas). Foi, portanto, com surpresa que na releitura descobri uma heroína inexperiente, sim, mas muito dedicada às amizades e aos parentes, em especial o irmão mais velho, James, e uma jovem, ao contrário de sua amiga Isabella Thorpe, de mente aberta e disposta a aprender com suas experiências e com outras pessoas. E por falar em Isabella, preciso comentar que eu não me lembrava nada sobre os Thorpe, cujo sobrenome certamente não foi escolhido por acaso pela gênia Jane. Ô gentinha, esses três irmãos! 

O que se reafirmou na leitura atual foi a constatação do amor de Catherine pela literatura, amor esse compartilhado por seu mais novo amigo e interesse romântico Henry Tilney, que, por ser ajuizado e ponderado, contrapõe-se às atitudes impensadas de Catherine. É dele a minha frase preferida do romance, “Qualquer pessoa, seja homem ou mulher, que não souber apreciar um bom romance deve ser insuportavelmente estúpida”.

Eu me lembrava de ter rido e me divertido muito durante a primeira leitura e agora isso também se repetiu, pois as situações desconfortáveis em que Catherine se mete por causa da sua imaginação fértil são impagáveis. Minha favorita desta vez foi a da gaveta trancada no quarto em que ela é hóspede na abadia.

Apesar de adorar a economia da escrita de Jane Austen, que ainda assim consegue ser elegante, achei o final um pouco corrido, mas esse foi o único ponto negativo da leitura. Achei que ficou meio no ar a questão com Mr. Tilney, pai de Henry.

Desta vez ficou clara para mim a “moral” da história, algo que na primeira leitura eu não captei ou então considerei desimportante a ponto de esquecer. Catherine acaba descobrindo que pessoas reais são mais estranhas e assustadoras que as da ficção gótica,  mesmo quando por razões  diferentes. 

Dois temas principais ficaram para mim após essa releitura. O primeiro, o amor pela leitura, mostrado nos maravilhosos diálogos entre Catherine e Henry, em que eles falam com prazer sobre livros e o ato de ler. E ainda uma reflexão sobre como jovens podem ser cabeças-de-vento e impulsivos demais, mas isso não é exclusividade deles (tem vários adultos fúteis nessa e em outras histórias de Jane Austen)!

Planejo reler quase toda a obra da autora (só tenho medo de “Mansfield Park”, que detestei na primeira vez) e por isso fiquei pensando se eu hoje teria uma ideia diferente da obra dela se tivesse começado por “Northanger Abbey” em vez de “Pride and prejudice” (Orgulho e preconceito) como fiz. Nessa releitura, considero que a história de Catherine é uma boa maneira de iniciar a obra da autora britânica caso você ainda não tenha feito isso. Embora, como já mencionei, este livro seja diferente dos outros dela, aqui dá para sentir um gostinho do romantismo irônico austeniano e ver se gosta.

Recomendo para: fãs de narrativas perspicazes, interessados por literatura e por grandes personagens (Austen tem mocinhas e mocinhos que amamos e vilões que amamos odiar!) e para todos que tenham alguma curiosidade em conhecer a obra de Jane Austen mas têm medo de livros antigos ou clássicos. Eu juro que a linguagem da autora, apesar de elegante como já mencionei, não é rebuscada e nem difícil de entender! Dê uma chance. Mesmo que a autora não caia no seu gosto, o que ela tem a dizer ainda merece a atenção dos leitores atuais. E para quem não sabe, tanto a obra de Jane Austen quanto a de Ann Radcliffe estão em domínio público, portanto ambas podem ser baixadas em PDF ou outros formatos digitais de maneira gratuita.




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