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Mostrando postagens de março, 2024

#32 Por que AutorAs?

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  Imagem:  themuse.com “Parabéns pela promoção no trabalho que você já faz.” No início do mês , eu comentei que considero a escrita de mulheres diferente da de homens. Hoje vim contar o porquê dessa opinião. E, claro, aproveitar a oportunidade de dar uma surra de indicações. Autoras falam do doméstico e do cotidiano do ponto de vista de quem cuidava desse âmbito, ainda cuida, cuidará ou é permanentemente criticada por não cuidar. Esse ponto de vista costuma ser negligenciado na escrita realizada por homens pelo fato deles, historicamente, não realizarem as mesmas atividades que as mulheres. Neste momento, pode ter algum leitor defendendo que “A odisseia” ou “Moby Dick” contam histórias mais relevantes que quaisquer livros que tratam do cotidiano. Antes de opinar, seria ideal ler algumas histórias do último tipo, mas podemos começar a discussão com uma pergunta: já parou para pensar em quem cuidou / cuida da sua casa e dos seus filhos? Se não foi / é você, há grandes chances de que tenh

#31 Luminol, de Carla Piazzi

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  (Editora Incompleta, Capa: Angela Mendes e Lara Del Rey) Eu não sei, caro leitor, até que ponto o místico faz parte da sua crença, mas preciso dizer que ao bater os olhos em “Luminol”, eu senti que amaria a leitura. O título conciso e intrigante ( CSI: Vegas feelings ) , unido às imagens imprecisas da capa foram o suficiente para despertar meu interesse. Depois, li o primeiro parágrafo do texto na contracapa e pronto, já precisava ler mais. Dividido em três partes, cada uma com uma narradora diferente, a história começa a ser contada pela escritora e tradutora Maya. De mudança para uma chácara na montanha, com ela chegam caminhões trazendo itens não apenas seus, mas também das mulheres de sua vida: A bisavó, Minda, e a avó, Gera,  que a criaram e a mãe, Clara, morta quando Maya era criança. Em meio à escrita de um livro, objetos e lembranças das narrativas das avós, ela tenta montar um retrato da mãe que mal conheceu. Esta se faz presente de alguma maneira agora que Maya precisa conv

#30 O castelo no ar, de Diana Wynne Jones

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  (Capa e ilustrações: Isadora Zeferino, Tradução de Raquel Zampil) Com uma ambientação médio-oriental, tapete voador, gênio da lâmpada e djins , esse segundo livro da trilogia iniciada com “O castelo animado” consegue ser mais divertido que o anterior. Abdullah vende tapetes no mercado de Zanzib e passa as horas vagas sonhando acordado com riquezas e mundos fantásticos. Quando adquire o tapete mágico de um homem misterioso, Abdullah voa até o universo que tanto imaginava. Lá, ele conhece a princesa Flor da Noite e transforma seus dias.  Flor da Noite, aliás, é uma das pessoas mais interessantes aqui. Perspicaz e determinada, ela é a perfeita mocinha pela qual dá gosto torcer. Embora apareça pouco na jornada de Abdullah, é ela quem dá impulso a ele e toda a narrativa. Ela exerce, ainda, papel fundamental na solução dos problemas no fim da história. Diana Wynne Jones é mestre na construção de personagens. Gateira que sou, adorei Meia-Noite e seu filhote, Atrevido, mas cada pessoa, ser

#29 AutorAs

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  (Imagem: Domínio Público ) Há uns oito anos, eu  simplesmente lia o que aparecia na minha frente e me chamava a atenção. Eu não pensava sobre o gênero de quem escrevia. Quando, influenciada principalmente pelo Book Tube, comecei a contabilizar, fiquei surpresa ao perceber que a maioria do conteúdo literário consumido por mim era produzido por homens. Num primeiro momento, questionei se de fato esse dado era importante. E, após pesquisar argumentos a favor e contra, iniciei um exercício consciente de ler mais autoras e concluí que, sim, há muita diferença nos temas tratados, na forma como isso é feito e no retrato das personagens do sexo feminino de acordo com o gênero de quem escreve. Nos últimos anos, com uma visão mais ampliada e crítica, descobri escritoras maravilhosas, tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela variedade de temas abordados por elas. O que não significa, vale esclarecer, que deixei de ler autores nem que acho que a escrita deles seja pior que a delas. É a