#29 AutorAs

 

(Imagem: Domínio Público)


Há uns oito anos, eu  simplesmente lia o que aparecia na minha frente e me chamava a atenção. Eu não pensava sobre o gênero de quem escrevia. Quando, influenciada principalmente pelo Book Tube, comecei a contabilizar, fiquei surpresa ao perceber que a maioria do conteúdo literário consumido por mim era produzido por homens. Num primeiro momento, questionei se de fato esse dado era importante. E, após pesquisar argumentos a favor e contra, iniciei um exercício consciente de ler mais autoras e concluí que, sim, há muita diferença nos temas tratados, na forma como isso é feito e no retrato das personagens do sexo feminino de acordo com o gênero de quem escreve.

Nos últimos anos, com uma visão mais ampliada e crítica, descobri escritoras maravilhosas, tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela variedade de temas abordados por elas. O que não significa, vale esclarecer, que deixei de ler autores nem que acho que a escrita deles seja pior que a delas. É apenas diferente. Pode parecer óbvio dizer que mulheres escrevem com mais realismo sobre maternidade, por exemplo. Mas, eu já disse, não era óbvio para mim até eu ler um número maior de autoras e comparar as escritas delas com as dos autores. Muita gente pode não ter essa consciência, e por isso vim espalhar a palavra de uma maior diversidade de gênero nas suas leituras. Para isso, neste post e em todo o mês de março vai ter chuva de indicação de autoras por aqui. 

Sempre, entre as minhas melhores leituras, estão as internacionais clássicas, Jane Austen, de quem já falei aqui e aqui; as irmãs Brontë, cujos romances adoro, embora ainda não tenha falado deles no blog e Virginia Woolf, rainha do fluxo de consciência e ensaísta genial. Mais uma referência quando penso em grandes autoras, Lucia Berlin me impactou com seu “Manual da faxineira”, lido há anos mas ainda ecoando nos meus pensamentos.

Há também as contemporâneas Margaret Atwood, que admiro para muito além de “O conto da aia”; Elena Ferrante, que me ganhou com a Tetralogia Napolitana mas me impressiona a cada novo romance que leio; Thrity Umrigar, com vários livros publicados no Brasil, mas de quem não ouço falar com frequência; Sayaka Murata, que me ganhou com “Querida Kombini” e me nocauteou em “Terráqueos”; Yoko Ogawa, autora, entre outros, do maravilhoso “A polícia da memória”; Chimamanda Ngozi Adichie, que adoro ler, ver e ouvir; Camilla Sosa Villada, que dá visibilidade a travestis e mulheres trans e escreve realismo mágico; e a porradeira Ariana Harwicz.

Além do dream team de gringas, as brasileiras contemporâneas consolidaram-se entre minhas leituras nos últimos anos. Minhas favoritas são Liliane Prata, que escreve crônicas no Inquietudes e tem volumes de contos e romances publicados; Vanessa Bárbara, que também escreveu vários romances, foi premiada por seu livro-reportagem “O livro amarelo do terminal” e escreve a Seleta de Legumes; Ana Lis Soares, com um romance publicado e que em seu canal no YouTube dá dicas de leitura e discute literatura e escrita; Giovana Madalosso, que além de seus ótimos romances é autora do igualmente ótimo livro de contos “A teta racional”; Natalia Borges Polesso, também romancista, cujo livro de contos “Amora” quebrou um preconceito que eu tinha: o de que qualquer obra com protagonistas lésbicas fosse, obrigatoriamente, erótica; Socorro Acioli, vencedora do Jabuti em 2013 e que tem livros infanto-juvenis tão bom quanto seus romances; Andréa del Fuego, de quem, por enquanto, só li “A pediatra” mas já considero pacas; Sheyla Smanioto e, como falei há pouco, Mariana Salomão Carrara. Todas elas estão aí, publicando livros magníficos sobre temas atuais, em linguagem idem e nem sempre sendo tão lidas quanto poderiam e quanto merecem. 

    Se você procurar aqui no blog, vai encontrar outras autoras de quem li pelo menos um livro e me agradaram bastante, como Paula Gomes e Sabina Anzuategui. Das descobertas estrangeiras recentes, Sara Mesa se destaca. Cada uma tem seu estilo de escrita, podendo agradar leitores com preferências diversas, então como escolher uma? Espero que os links desta postagem ajudem você a encontrar uma nova escritora para chamar de favorita. Se ficar mais atento a quantas mulheres você tem lido e quantas aparecem na sua livraria ou biblioteca preferida, já é um passo para conhecer mais escritoras. Tenho certeza de que alguma delas vai te cativar, basta experimentar.

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