#24 Lady Susan, de Jane Austen (releitura)

 


(Capa de Arquétipo Design + Comunicação. Tradução e notas de Doris Goettems)


O prefácio dessa edição destaca que “Lady Susan” não recebeu tanta atenção quanto os outros romances de Jane Austen. No entanto, essa personagem é, na minha opinião, uma das mais marcantes da autora. 

Coquete, calculista e dissimulada, Lady Susan Vernon, uma viúva na casa dos trinta anos, visa apenas o benefício próprio e não mede esforços para conseguir o que deseja: livrar-se de sua filha Frederica casando-a com o tolo Sir James Martin. Lady Susan flerta com muitos homens de seu convívio, inclusive alguns casados. Somente por meio de sua correspondência com a amiga Mrs. Alicia Johnson conhecemos seus verdadeiros interesses. Para todas as outras personagens, Lady Susan mente de maneira descarada. Ela manipula desde Frederica até o galanteador Mr. Reginald de Courcy, que parecia muito esperto até conhecer a “vilã” e ser ludibriado e manipulado por ela. A cunhada de Lady Susan, Mrs. Catherine Vernon, porém, não compra suas encenações e tenta revelar o verdadeiro caráter da protagonista sem, no entanto, romper a harmonia familiar. 

Há uns 15 dias, assisti à adaptação cinematográfica do livro, chamada “Amor e amizade” e ela me fez relê-lo. O filme complementa bem a leitura, pois mostra o cenário que fica de fora deste que é um romance epistolar. O final da adaptação traz um detalhe ligeiramente diverso da obra original que faz toda a diferença e torna Lady Susan uma mulher ainda mais escandalosa segundo os padrões de sua época e os da obra de Jane Austen.

 Antes dessa releitura, os detalhes tinham esmaecido, mas a personalidade forte de Lady Susan brilhava quando eu pensava na história. É interessante ver a liberdade financeira e sexual que a viuvez confere à protagonista, tão diferente das mocinhas casadoiras típicas de Jane. A experiência de vida dessa personagem, sua sagacidade, a consciência que tem de seu charme, o uso que faz desses atributos para realizar suas ambições e, acima de tudo, o prazer que ela sente no processo, são lições sobre empoderamento feminino numa época em que a beleza era um dos poucos recursos disponíveis a mulheres. O que leva a refletir sobre o quanto isso mudou (ou não) no decorrer do tempo.

Também é curioso notar, nesse primeiro romance, (originalmente intitulado “Love and friendship”, nome, a meu ver, sabiamente escolhido para o filme acima mencionado) que Jane era uma grande escritora desde jovem. Em “Lady Susan”, provavelmente escrito no final da adolescência da autora, encontramos a ironia, a argúcia e a crítica de costumes típicas de sua obra.

Apesar de ser um recurso comum, me agradou a conclusão como arremate da história, pois assim foi possível tornar o final mais dinâmico do que seria caso houvesse um prolongamento do número de capítulos compostos por cartas. 

Embora eu tenha adorado ler o romance nessa edição bilíngue, há várias outras. Algumas delas contém outros trabalhos curtos da autora. E é sempre bom lembrar que obras em domínio público, incluindo a de Jane Austen, podem ser encontradas na internet e lidas online ou baixadas de forma gratuita.


Recomendo para quem gosta de antagonistas e para fofoqueiros de plantão, já que esse enredo é cheio de intrigas.

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