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Mostrando postagens de janeiro, 2024

#24 Lady Susan, de Jane Austen (releitura)

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  (Capa de Arquétipo Design + Comunicação. Tradução e notas de Doris Goettems) O prefácio dessa edição destaca que “Lady Susan” não recebeu tanta atenção quanto os outros romances de Jane Austen. No entanto, essa personagem é, na minha opinião, uma das mais marcantes da autora.  Coquete, calculista e dissimulada, Lady Susan Vernon, uma viúva na casa dos trinta anos, visa apenas o benefício próprio e não mede esforços para conseguir o que deseja: livrar-se de sua filha Frederica casando-a com o tolo Sir James Martin. Lady Susan flerta com muitos homens de seu convívio, inclusive alguns casados. Somente por meio de sua correspondência com a amiga Mrs. Alicia Johnson conhecemos seus verdadeiros interesses. Para todas as outras personagens, Lady Susan mente de maneira descarada. Ela manipula desde Frederica até o galanteador Mr. Reginald de Courcy, que parecia muito esperto até conhecer a “vilã” e ser ludibriado e manipulado por ela. A cunhada de Lady Susan, Mrs. Catherine Vernon, porém,

#23 Minhas bibliotecas

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Imagem: istockphoto.com P or ser uma leitora voraz que passou a infância numa casa sem livros (assunto para outro post), eu sempre fui assídua frequentadora de bibliotecas. Primeiro somente nas escolas em que estudei. Depois, na adolescência, num bairro próximo de onde moro. Aqui, leia-se “uma hora de caminhada, ida e volta” que eu fazia alegre, pois o acervo em questão continha muitas Agatha Christies, Sidney Sheldons e clássicos com que eu estava me familiarizando na época, como o escandaloso “O crime do padre Amaro”.  Já adulta e passando horas no transporte público de São Paulo para ir ao trabalho e voltar dele, fiz leituras das quais tenho ótimas lembranças (oi, Marian Keyes, Válter Hugo Mãe e Nick Hornby!) pelo extinto Embarque na Leitura . Nessa época, teve também a biblioteca de uma instituição que frequentei e onde li obras sobre misticismo e espiritualidade, pois era então a minha vibe e a do lugar. Teve outro projeto da prefeitura, o De Mão em Mão , cujo catálogo era limit

#22 "Alameda Santos", de Ivana A. Leite e "Uma mulher sem ambição", de Sabina Anzuategui

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Duas leituras que fiz no mês passado têm vários pontos em comum e por isso hoje decidi juntá-las aqui. Em “Uma mulher sem ambição”, conhecemos Mercedes. Ela tem trinta e tantos anos e já foi a típica mulher bem-sucedida de classe média alta, porém isso foi pelo ralo quando se divorciou. Graduada em cinema e ex-roteirista de TV, ela nunca se dedicou de fato à carreira. Atualmente, dá algumas aulas em uma escola de cinema. Sem paixão ou sequer empenho, concentrada apenas em pagar as contas, ela tem pouco interesse pelo trabalho ou mesmo pela vida e quase nenhuma perspectiva para o futuro. Por trabalhar poucas horas por semana, Mercedes possui tempo livre de sobra e o gasta assistindo filmes em centros culturais e discutindo-os com outros cinéfilos em botecos de São Paulo. A protagonista conta seu cotidiano em diário e é assim que acompanhamos (com curiosidade, no meu caso) seu desânimo com o trabalho formal apesar do orçamento apertado, seus encontros casuais e, acima de tudo, o tédio se

#21 A última casa da Rua Needless, de Catriona Ward

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  (Jangada, Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta) Os narradores do "A última casa da Rua Needless" são Didi ‒ a irmã de uma menina desaparecida há anos, Ted Bannerman ‒ um homem solitário (apesar de viver com sua filha Lauren), e a gata desses dois ‒ Olívia. É isso mesmo, a gata é uma das narradoras. Quando soube disso, eu imediatamente quis ler o livro . Sou do tipo de leitora que gosta de desvendar a trama aos poucos. Quanto menos eu souber a respeito de uma história antes de lê-la, melhor. No caso de suspenses, a surpresa é um fator ainda mais importante. Portanto, vou fazer o que gostaria que fizessem comigo e contar a minha experiência, sem me aprofundar na sinopse. Minha leitura de "A última casa da Rua Needless" durou meses. Segundo me lembro, esse foi o período mais longo que passei lendo um thriller . Só no último terço do livro entendi o motivo: esse não é um suspense comum. Eu demorei a engatar na leitura porque no início tudo parecia clich

#20 Meu corpo ainda quente, de Sheyla Smanioto

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    (Nós) Segundo romance da paulistana Sheyla Smanioto, “Meu corpo ainda quente” traz personagens femininas e suas experiências em corpos que “nunca têm só pra elas”, como define uma personagem. O nome da protagonista do romance, João, lhe foi dado como tentativa de mitigar as violências cotidianas contra mulheres no local onde moram. Lugar fictício de desova de corpos durante a ditadura militar brasileira e inspirado no município paulista de Diadema, onde cresceu Smanioto, “Vermelho” é o cenário da história. Nesse ambiente, Jô ‒‒ apelido de João ‒‒ vive seus relacionamentos familiares, de amizade e afetivos. Porém, a relação mais importante mostrada na obra é a de mulheres com seus corpos e com o sexismo sofrido por elas. Ao longo de toda a narrativa, as interações da protagonista com outras personagens mostram a visão de mulheres acostumadas a não ter voz e doutrinadas a afastarem-se das sensações do próprio corpo, palavra sempre grafada com C maiúsculo, para personificá-la. Eu