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Mostrando postagens de julho, 2024

#50 A época da inocência, de Edith Wharton

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  (Capa:A2 / Mika Matsuzake) Tradução: Jonas Tenfen e Juliana Steil) Em “A época da inocência”, acompanhamos a vida de um grupo de nova-iorquinos abastados durante a Era Dourada da cidade (entre o final do século XIX e o início do XX).  Um narrador onisciente nos mostra de perto o ponto de vista de Newland Archer. No início do livro, o jovem advogado está noivo de May Welland e ansioso para marcar a data do casamento. May é linda e, como Newland, vem de família rica, portanto a união é ideal para ambos os lados. Ele gosta de literatura e arte, o que torna sua mentalidade menos tacanha do que a da maioria das pessoas de seu convívio. Por isso, apesar de apaixonado, Newland sente-se entediado ao ouvir as opiniões convencionais da noiva, educada para ser boa esposa e mãe e “fazer bonito” em eventos sociais.  Após anos na Europa, a chegada à cidade da recém-separada Ellen Olenska, além de um escândalo, torna-se uma janela por onde Newland vê a personificação do conhecimento d...

#49 Onde vivem os monstros, de Maurice Sendak, e a adaptação de Spike Jonze

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(Direção: Spike Jonze. Roteiro: Spike Jonze e Dave Eggers) Caso a visualização esteja estranha, acesse em sorayaviana.substack.com Max: Carol, sabia que o sol vai morrer? Carol: Eu nunca ouvi falar disso. (…) Você é o rei. E olhe para mim, eu sou grande. Como caras que nem a gente podem se preocupar com uma coisa minúscula como o sol? (Tradução minha) Em 2010, “Onde vivem os monstros” me impactou. A lembrança que guardei do filme desde então é quase tão querida quanto a que tenho de “A história sem fim” , assistido por mim inúmeras vezes quando criança e causa de litros de lágrimas quando o revi já adulta (embora os efeitos especiais dos anos 80, obviamente, não tenham envelhecido bem). Ambos os trabalhos usam a fantasia para falar de temas psicológicos profundos. (Tradução: Heloisa Jahn) Na adaptação de “Onde vivem os monstros” por Spike Jonze , me apeguei tanto à aventura do garoto Max e suas criaturas que fiz questão de comprar a obra original, o livro clássico de Maurice Sendak...

#48 Dicas (nem tão) rápidas: "As coisas que perdemos no fogo" e "Quando acreditávamos em sereias"

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(Imagem: Freepik.com ) Os dois livros que vim indicar hoje são de gêneros diferentes mas têm em comum: 1. títulos relativamente longos 2.  o fato de terem permanecido na minha cabeça por semanas (Capa: La Boca e ô de casa, Tradução: José Geraldo Couto) Quem está antenado com a literatura contemporânea sabe que a argentina Mariana Enríquez tem dado o que falar. Eu comecei a lê-la por “As coisas que perdemos no fogo” e finalmente entendi o porquê da comoção em torno da autora.  Até então eu não havia lido nada parecido. Mariana escreve num estilo que eu classifico de “terror urbano e social”. Os 15 contos da edição estão repletos de personagens marginalizados e situações de injustiça e violência corriqueiras na atualidade. Todos eles se passam na Argentina mas, como toda boa história, têm ressonância universal. Meus favoritos: “A hospedaria” relata a experiência “sobrenatural” vivida pela adolescente Florencia em companhia da amiga Rocío numa hospedaria abandonada. E...

#47 Voragem, de Junichiro Tanizaki

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  (Capa: Raul Loureiro, Tradução: Leiko Gotoda) O romance é composto pelo relato verbal de Sonoko Kakiuchi dirigido a alguém que ela chama de sensei . Esse ouvinte, aliás, interfere em alguns momentos, dando assim a entender que escreveu o livro com base na história contada pela senhora Kakiuchi. Em sua narrativa, a protagonista conta de sua paixão pela jovem Mitsuko Tokumitsu e o desenvolvimento de sua relação. Classificar de tóxico o relacionamento das duas mulheres é usar um eufemismo. Creio que destrutivo seja a palavra mais adequada. Para começar, Sonoko é casada com Eijiro e mente para ele na maior parte do tempo em que se relaciona com Mitsuko. Para complicar ainda mais a situação, na segunda metade do livro, entra em cena outro homem, Watanuki. Prefiro não detalhar em quais circunstâncias, para não entregar muito do enredo. No início do caso, a beleza encantadora de Mitsuko leva Sonoko a decidir pintá-la à imagem de Kannon . Conforme a relação entre as duas mulheres s...

#46 Sobre ler rápido ou devagar (e, como resultado, "muito" ou "pouco")

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(Imagem: vecteezy.com ) O mundo atual pede que a gente se mova num ritmo vertiginoso, afinal tudo é “para ontem”. Nossa atenção quase sempre está dividida, tentando dar conta das demandas infinitas, sejam internas ou externas. Nesse cenário, como ficam as leituras? Desde pequena, até antes de ser alfabetizada (quando minha mãe lia gibis da Turma da Mônica em voz alta), a leitura sempre cumpriu na minha vida um papel de entretenimento e informativo ‒ curiosa, eu adorava ler até enciclopédias quando fazia trabalhos escolares.  Durante a graduação em Letras, eu precisava ler conteúdo do curso, claro. Felizmente eu gostava da maioria dos assuntos mas, mesmo assim, achava cansativo só ler o que me mandavam, então esse foi o período da vida em que menos li apenas por prazer. De qualquer forma, eu encaixava leituras de lazer sempre que possível pois considero insuportável viver sem contato com boas histórias. Naquele período, com a escassez de tempo que limitava a quantidade de leituras f...