#2 Paris é uma festa, de Ernest Hemingway (releitura)





(Civilização Brasileira, Tradução de Ênio Silveira)

    Empolgada com a leitura anterior, eu decidi desenterrar das profundezas da minha biblioteca o meu exemplar de "Paris é uma festa"  que li na adolescência. É uma edição de 1985, ou seja, a edição já era antiga quando a comprei dezenove anos atrás. Quem gosta de livros antigos e/ou de frequentar sebos sabe o que um exemplar assim pode despertar. Fiquei emocionada porque, apesar de eu não ter gostado da leitura desse livro na primeira vez, as lembranças do momento de vida em que o comprei e dos caminhos que ele e eu percorremos (tanto literal quanto metaforicamente) até nos reencontrarmos atualmente, já foram uma viagem muito gostosa de fazer. Contato com o livro antigo + a história da minha (re)descoberta de Hemingway = bons presságios para a leitura.

E eles foram confirmados.

    Aqui, Hemingway narra suas memórias do período em que, aos vinte e poucos anos, começava sua carreira de escritor e sua vida com a primeira esposa, Elizabeth Hadley Richardson, na agitadíssima Paris dos anos 20.

    A visão dele sobre figuras icônicas da literatura mundial como F. Scott Fitzgerald e Ezra Pound dá um sabor especial à narrativa, apesar de eu achar controversa a visão dele a respeito de Zelda Fitzgerald e sua suposta sabotagem da carreira do marido.

    A narrativa é deliciosa de ler também por evidenciar a nostalgia de um Hemingway já sessentão. O tom suave com que ele conta suas memórias da juventude faz pensar principalmente na felicidade simples do casal Hemingway-Hadley, apesar da pobreza mencionada algumas vezes durante a história ‒ o  capítulo "A fome como boa disciplina" foi um dos que mais gostei de ler.

    Entre os trechos engraçados, está o que menciona a atividade de babá do gato da família, F. Puss, e as reflexões de Hemingway e seu amigo, também escritor, Evan Shipman sobre Dostoievski.

    Com suas pouco mais de duzentas páginas, foi uma leitura deliciosa!

Recomendo para apreciadores de livros de memórias e pessoas de mais de 25 anos que queiram ter um primeiro contato com a escrita de Hemingway. Se você é mais jovem que isso e mesmo assim se interessou, pode ler também, claro. Com base na minha experiência com o livro, porém, eu sugiro que você viva um pouco mais antes de fazer isso. Afinal, até Hemingway, ao que tudo indica, só soube apreciar as pequenas coisas das suas experiências de juventude quando já estava no fim da vida.

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