#41 A redescoberta do mundo, de Thrity Umrigar

 

(Capa: Victor Burton, Tradução: Regina Lyra)

A escrita de Thrity Umrigar é fluida e seus livros, impossíveis de largar antes do final. "A descoberta do mundo" não é exceção.

Por não ter lido a sinopse, eu esperava acompanhar nessa história “o reencontro de quatro amigas”, como diz o blurb da edição. Entretanto, a autora vai além e mostra o passado da amizade das quatro mulheres, as diferenças e as circunstâncias para o afastamento delas, suas relações familiares e vidas atuais. Tudo isso fazendo um recorte dentro do panorama político-social da Índia dos anos 70 até o início da década de 2010 (o livro foi publicado em 2012). 

Esse romance (e outros da autora) contém ainda referências literárias, cinematográficas e musicais que, quando não conheço, pesquiso, pois costumam adicionar outras camadas de sentido à narrativa. Todos os elementos acima fazem da leitura uma experiência culturalmente rica. 

A variedade de "tipos" retratados é mais um dos pontos fortes da escrita da autora. A meu ver, ela dá show de representatividade ao criar personagens de religiões, classes sociais, visões políticas e sexualidades diferentes. A maneira natural e não-panfletária como trabalha cada um desses aspectos é magistral, porque deixa espaço para que o leitor reflita e tire as próprias conclusões.

Ao terminar de ler "A redescoberta do mundo", fiquei um pouco decepcionada com o final. Após pensar a respeito, porém, concluí que a arquitetura do romance é ideal para as reflexões que Thrity (possivelmente, pois é achismo meu) buscou suscitar. É um livro sobre o qual tenho pensado bastante desde que terminei de ler, há quase duas semanas. 

É admirável que, em menos de 300 páginas, Thrity Umrigar tenha tocado em tantos temas relevantes e criado personagens complexos e verossímeis. Com esse livro, o terceiro que li da autora, ela tornou-se uma das minhas escritoras favoritas da atualidade.

Recomendo para: interessados em culturas de povos para além dos E.U.A. e da Europa ou quem simplesmente quer ler uma história curta porém profunda e bem contada.