#38 Sociedade dos Autores Mortos

Paul Auster: a cara marota de quem escrevia livros fodásticos

Foto: oantagonista.com.br


Quem acompanha minhas leituras já sabe que adoro obras de gente morta. Creio que parte do motivo é o fato de eu ser frequentadora de bibliotecas, local em que moradores do Além costumam abundar. Faz menos de uma década que comecei a mudar, de forma consciente, esse hábito e a ler mais da produção contemporânea.

Porém, ao saber do falecimento de Paul Auster na semana passada levei um susto. Eu não pude evitar a mesma sensação ruim que tive ao saber da morte de Gabriel García Márquez. Há 10 anos, meu primeiro pensamento ao ouvir a notícia foi “nunca mais teremos um livro inédito de Gabo”. Isso mudou há pouco tempo, mas com a minha má vontade de ler um romance inacabado, por enquanto mantenho a imagem de 2014. Voltando ao autor norte-americano, sua morte me fez querer registrar meu apreço por seu trabalho. Apesar de eu tê-lo lido pouco, no meu coração de leitora Auster tem seu lugar garantido ao lado de monstros das letras como o autor de “Cem anos de solidão”


“Por quase um ano ele tem fotografado coisas abandonadas. (...) Todas as pessoas ausentes fugiram com pressa, envergonhadas e confusas e é certo que, onde quer que vivam agora (se encontraram um lugar para viver e não estão acampadas nas ruas), suas novas residências são menores do que as casas que perderam. (...) ele assumiu a responsabilidade de documentar os últimos traços remanescentes daquelas vidas dispersas para provar que as famílias desaparecidas estiveram aqui um dia, que os fantasmas dessas pessoas que ele nunca vai ver ou conhecer ainda estão presentes nos objetos descartados espalhados pelas casas vazias delas.”


Esse excerto está no início do romance “Sunset Park”, publicado pela Companhia das Letras, atual editora de Auster no Brasil. A minha edição, da qual traduzi o trecho, é esta. Quando li a passagem acima anos atrás, fiquei 


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(Foto: soundcloud.com)


Até então eu apenas tinha ouvido falar de Auster mas, curiosa sobre a vida do personagem, Miles Heller, que fotografa casas ao esvaziá-las (e dos antigos moradores), agarrei o exemplar em bom estado, levei comigo e passei ótimos momentos na leitura. 

Depois, sabe-se lá por que, li apenas um outro livro do autor. No entanto, a engenhosidade dele em The New York Trilogy me arrebatou novamente em 2022. Na pesquisa para este post, gostei da resenha sobre “A trilogia de Nova York” lida aqui

Após a notícia da perda de Paul Auster, o que me consola é saber dos vários livros dele ainda esperando para serem lidos por mim pela primeira vez, inclusive o último, Baumgartner, publicado nos EUA em 2023 e ainda sem tradução para o português.

Recomendo o autor para aqueles que gostam de histórias instigantes e contadas de maneira inusitada.


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