#45 Leituras do primeiro semestre de 2024

 

(Foto: freepik.com)


Hoje trago breves reflexões sobre as leituras favoritas do primeiro semestre de 2024, e duas de minhas atuais tendências na escolha de livros. 

Um de meus critérios ao selecionar livros para resenhar é ter gostado muito da leitura. Portanto, tudo o que está no Vivo entre Livros me agradou. Há, porém, livros de que gostei mas não resenhei por: 1) me sentir incapaz de falar sem dar spoilers; ou 2) senti que não tinha muito para contribuir com o assunto que está bombando; ou ainda 3) fiquei boquiaberta e não queria prestar um desserviço à qualidade do livro contando a sinopse.

A maioria dos livros abaixo (organizados por ordem de leitura) encaixa-se em uma das categorias mencionadas.

(Editora José Olympio)


  Numa simplificação monstruosa, posso definir que “A filha primitiva” narra a história de uma mãe incapaz de se conectar com a filha por conta da mágoa que sente pela própria mãe. 

Para mim, foi uma leitura frenética apesar do mal estar que me causou. Eu tentei por duas semanas escrever a respeito dessa história mas o máximo que consigo dizer é que é uma relato conciso e impactante da complexidade das relações familiares. 

Recomendo para quem está disposto a olhar um lado nada romântico da maternidade.



(Editora Record)


Em um dos meus posts sobre autoras, mencionei “Um defeito de cor”. O que eu ainda não disse é que ele foi um dos melhores livros que li na vida e, portanto, precisava ser incluído nesta lista. Apesar disso, eu optei por não escrever uma resenha completa por achar que não acrescentaria nada relevante ao que já estava sendo dito a respeito dele na época. Mas reforço minha recomendação. 

Recomendo para pessoas alfabetizadas. Sério! Esse livro é para quem gosta de ficção, mas também para quem curte História. Para quem se interessa por política e para fãs de realismo mágico. Acima de tudo, para quem tem prazer em ouvir / ler narrativas bem construídas. 


(Editora do Autor)

  “Nova Jaguaruara” tinha sido recomendado por uma amiga há anos, mas só agora eu o li e soube o que estava perdendo.  

O romance começa com o desafio mútuo de um trio de crianças e sua ida noturna até uma igreja abandonada da região. O que acontece quando chegam lá e se encerra o primeiro capítulo é algo que fisga o leitor imediatamente. Nos capítulos seguintes, conhecemos diversos outros personagens e, mais adiante, entendemos como todos eles estão conectados e quais papeis desempenham na história da fictícia cidade de Nova Jaguaruara. E olha, a tensão aumenta a cada página e o desfecho foi impressionante.

Esse suspense / terror traz muitos elementos consagrados do gênero sem, no entanto, tornar-se um pastiche. Pelo contrário, Amaurício Lopes conseguiu mostrar que é possível extrapolar clichês e narrar com uma voz própria mesmo que suas referências apareçam no texto. Falei mais do livro aqui.

Recomendo para fãs de suspense e terror (fãs de Stephen King e da minissérie “Missa da meia-noite”, de Mike Flanagan, terão um prato cheio). Também para quem conhece pouco ou nada da ficção brasileira contemporânea. 


(Capa: Mariana Newlands)


 “Mãos de cavalo” é mais um livro que me esperava há anos e finalmente foi lido e muito apreciado. 

É a história de Hermano, um porto-alegrense que, durante um curto trajeto de carro, relembra sua infância e adolescência e os acontecimentos que o trouxeram à sua realidade atual. 

Essa outra grande obra contemporânea lembra a estrutura de romances modernistas como “Ulisses” e “Mrs. Dalloway”, pois a ação do momento presente do romance passa-se em apenas algumas horas da vida do protagonista. É um relato introspectivo mas, ao contrário da obra de Joyce, absolutamente acessível. Inclusive, há referências à cultura pop dos anos 80 e 90 que  aproximam o leitor dos acontecimentos narrados.

Pelo fato de se passar em Porto Alegre, lê-lo no contexto atual da catástrofe no Rio Grande do Sul fez com que o livro ganhasse, para mim, uma camada extra e um tom ainda mais nostálgico do que o já presente no texto. Aqui tem uma pequena resenha escrita logo que finalizei a leitura. Desde então, o livro cresceu ainda mais em mim.

Recomendo para quem gosta de romances de formação.

   


Menções honrosas (e uma nem tão)

Este tem sido um ano de tirar livros das profundezas da estante / do leitor digital. Outros livros nessa “categoria” lidos por mim no primeiro semestre foram: 

 

(Capa: José Duarte de Castro, Tradução: Conde de Azevedo e Visconde de Castilho)


“Dom Quixote” teve altos e baixos, algo que considero compreensível numa obra tão longa. Em alguns momentos, a história perde o fôlego e se torna repetitiva. Entre os pontos altos, eu destaco o humor e a metalinguagem usada por Cervantes.

Estou feliz por finalmente ter lido mais um romance que, sim, é obrigatório para quem quer se aprofundar na Literatura de Ficção.

Recomendo para quem quer rir e conhecer, na fonte, um dos personagens mais icônicos da Literatura mundial. 


(Editora Intrínseca, Tradução de André Telles)


Embora tenha muitos pontos questionáveis (aqui eu comento quais são), “A verdade sobre o caso Harry Quebert” foi bom o suficiente para eu terminá-lo. Mesmo assim, não tenho comentários positivos a respeito dele. 

De qualquer forma, fiquei satisfeita por ter matado minha curiosidade pelo hype de anos atrás.

Recomendo para quem já leu todos os romances policiais existentes na face da Terra. Sim, na minha opinião, há muitos outros melhores por aí. Leia os de Agatha Christie, Charlie Donlea, Magdalen Nabb e Andrea Camilleri e deixe esse por último.


https://record.com.br/produto/retrato-do-artista-quando-jovem/


 

(Capa: Evelyn Grumach, Tradução: José Geraldo Vieira) 


Tenho planos de encarar o já mencionado e temido “Ulisses”. Para isso, estou me preparando com livros introdutórios recomendados por especialistas em James Joyce e “Retrato do artista quando jovem” é um deles.

Essa leitura me envolveu e matou um grande monstro da minha cabeça. A criatura dizia que ler Joyce era tarefa para acadêmicos cabeçudos e não para mim. Agora, o ser monstruoso descansa em paz.

Mesmo trazendo inúmeros sentidos que podem ser melhor compreendidos por quem conhece o contexto histórico e político da Irlanda da época do autor, a escrita dele é capaz de dar um panorama também para o leitor menos bem-informado e aguçar a curiosidade para pesquisas de aprofundamento. Este podcast, aliás, me ajudou imensamente. 

Além da parte real por trás do romance, ele tem passagens belíssimas, com as quais qualquer apreciador de Literatura pode se maravilhar e questões com que podemos nos identificar. 

Quando amadurecer melhor a leitura dentro de mim, é possível que eu escreva mais sobre ela. 

Recomendo para adeptos de narrativas com fluxo de consciência. 


Poesia


3 Como contei aqui e aqui, em 2024 voltei a ler poesia. Ela me ajuda a entrar no estado de espírito ótimo para a leitura, por mais agitada que eu esteja. Além disso, me emociona, então estou adorando ter o gênero na minha vida de leitora novamente.

Recomendo a experiência para leitores novos e antigos. Há diversos subgêneros, então é provável que você goste de pelo menos um deles.

Como tem sido o seu ano de leituras até aqui?



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