#7 A noite das bruxas, de Agatha Christie (releitura)

Editora Record


Agatha Christie é uma de minhas escritoras favoritas da vida. Ainda tenho nítida na memória a primeira vez em que li “Assassinato na casa do pastor” numa edição antiga e bem charmosa, em capa dura, pelo Círculo do Livro, emprestada na biblioteca da escola. Eu tinha uns onze ou doze anos e, já fã de filmes de suspense, achei o máximo aquela história envolvente e engenhosa que só se resolve no finalzinho do livro.

Desde então, li inúmeros romances da Dama do Crime e, vez ou outra, revisito alguns deles anos depois, quando já esqueci a resolução de alguns dos mistérios. Posso dizer que permanece o meu fascínio pela eficiência da escrita, com tramas curiosas, intrincadas e ao mesmo tempo econômicas.

Aproveitando a modinha do lançamento do novo filme dirigido por Kenneth Branagh (interessante, apesar de apenas brevemente inspirado no livro), ouvi (aqui) uma antiga edição de “A noite das bruxas”. 

O romance se passa em um vilarejo no interior da Inglaterra onde a famosa autora de romances policiais Ariadne Oliver está hospedada na casa de sua amiga Judith Butler. Somos apresentados, logo no início, a grande parte dos personagens, pois eles estão em uma festa de dia das bruxas que organizam anualmente. Um assassinato então acontece, e a Sra. Oliver pede ajuda a seu amigo Hercule Poirot ‒ meu detetive favorito na obra de Agatha ‒ para solucionar o mistério.

Esse é um dos romances dela que eu já tinha lido, mas cujo enredo tinha sumido da minha memória, então foi como ler algo novo. Apesar de eu ter logo de início suspeitado de uma personagem específica e da sua provável motivação, os detalhes do crime me surpreenderam. 

Outro ponto interessante para mim nessa leitura foi eu ter prestado mais atenção às referências literárias, como personagens da mitologia grega ‒ ninfas,ondinas, Narciso e Agamenon ‒ e de Shakespeare ‒ o nome Miranda ‒ e o quanto essas referências e alguns locais específicos no vilarejo ajudam a criar o clima “mágico” ou “sobrenatural” ao qual ao título e o início da trama aludem. A autora também, muitas vezes, traz referências bíblicas em suas histórias e aqui, como disse Poirot em determinado momento da narrativa “Sempre voltamos às maçãs”. E agora, enquanto escrevo, penso também na maçã envenenada da bruxa de “Branca de Neve”. Alguns detalhes do desfecho ainda me deixaram matutando sobre uma possível interpretação psicanalítica. Enfim, Agatha Christie, com suas referências literárias (e mais algumas que enxerguei mesmo sem saber se de fato estavam lá, talvez por influência de bruxaria) era mesmo a rainha em criar enredos interessantíssimos e ricos.

Ainda bem que ainda há muitos fãs da Dame Agatha por aí e isso possibilita adaptações como os filmes de Branagh e nos convida a ler e reler a rainha do crime e do mistério. 

Recomendo para quem gosta de suspense mas ainda não leu a autora e para quem quer um livro leve, do tipo que conforta. Sim, Agatha Christie escreveu narrativas sobre crimes que são um alento, pois lá tudo é desvendado e as medidas cabíveis são sempre tomadas, ou seja, seus livros nos mostram desfechos diferentes do que muitas vezes vemos na vida real (embora seus personagens sejam muitíssimo verossímeis em suas atitudes).
    Taí uma modinha do cinema que segui com prazer genuíno! 

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